5.9.05

Fica Trevisan


Soube no Cronópios (www.cronopios.com.br)que o Sesc São Paulo está em vias de acabar com o espaço de oficinas, organizado e conduzido pelo João Silvério Trevisan. Particularmente, e sem saber exatamente os motivos, acho uma perda sem igual. Freqüentei bastante o Balaio de Texto e, em 24 de novembro de 2001, publiquei a crônica abaixo, um grito de satisfação pela exploração saudável e inteligente do espaço virtual. Republico-a como quem pede: parem, revejam suas posições.


Poetas em Fumo
Alexandre Brandão


Muita gente se reúne em torno de uma boa idéia. Outros tantos, o leitor astuto estará pensando, juntam-se em torno de idéias malignas. Verdadeiras uma e outra afirmações. Porém não estou aqui para filosofias, não agora. Trago-lhes apenas notícias de uma boa idéia.
O SESC São Paulo mantém uma página na INTERNET — http://sesc.uol.com.br/sesc ou http://www.sescsp.com.br/sesc* — bastante interessante. Lá estão desde a programação dos vários programas culturais promovidos em seus muitos teatros espalhados por São Paulo, capital e interior, até espaços virtuais mesmo, onde, de forma interativa, pode-se discutir arte e cultura. Normalmente, freqüento um desses, o Espaço Literário.
Nele é possível, por exemplo, saber de concursos literários, de endereços de sebos e de participar de debates sobre textos produzidos pelos internautas. Para isso, existem dois, digamos, subespaços. Num, às quartas-feiras, o Sopa de Letras, coordenado por Lizete Mercadante Machado, pode-se falar de literatura de forma bastante informal.
No outro, coordenado pelo escritor João Silvério Trevisan, há uma outra divisão. Assim é possível, por exemplo, cursar uma oficina literária. Para isso, é preciso acompanhar o calendário de quando estarão abertas novas inscrições e, então, seguir à risca as regras sugeridas ali. Não é um espaço aberto a todos, embora seja possível a qualquer um ler alguns textos produzidos pelos alunos.
Às quintas-feiras, existe um encontro, coordenado pelo mesmo João Silvério Trevisan e nomeado Balaio de Textos, aberto a qualquer um e que consiste no seguinte: na página de entrada, o internauta lê o texto que estará em destaque na semana — numa é poesia, noutra, conto —, entra na sala e dá a sua opinião, ou melhor, discute a sua leitura com várias outras pessoas. Qualquer um pode mandar um texto para o Balaio. O próprio João trata da seleção, mas como recebe uma quantidade enorme deles nem sempre enviar uma contribuição significa tê-la ali discutida em um curto espaço de tempo.
Tenho participado com freqüência desse Balaio de Textos. É uma coisa boa. Já se formou uma turma cativa, embora semana a semana surjam novas pessoas. Normalmente, quando estamos na sala, está também uma escritora gaúcha, uma que vive no interior de São Paulo, um conterrâneo de Arcos, um brasileiro vivendo no Canadá, alguns paulistanos, outros baianos. Todos, ou quase todos, poetas. Poetas que só conhecem de si opiniões ou textos, poetas, portanto, sem rosto. Poetas em fumo.
E, embora sem rosto, as relações que se estabelecem no Balaio expandem-se para outros espaços virtuais. Hoje, me correspondo, com certa disciplina, com três ou quatro balaieiros. Trocamos textos, informações sobre isso e aquilo e, em alguns casos, até nos fazemos algumas confidências.
Realmente, é um tanto estranho ter amigos assim chegados e não saber a cor de seus olhos. Mas a gente se acostuma.


* Os endereços podem não estar atualizados, já que a crônica é do ano de 2001.


A foto do Trevisan foi obtida na pesquisa Google, que indica www.bmsr.com.br/ autores/texto.htm como o caminho para encontrá-la. Foto "baixada" em 5/09/2005, às 22:20 h.

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