11.8.09

Na Trave


Bem sei, leitor, você bate os olhos neste mensário, em particular nesta coluna mal vertebrada de nome “No Osso”, à procura de distração. Acho até que está preparado para encarar uma temática, digamos assim, menos solar, afinal de contas estamos no Brasil e refletimos sobre ele, sobre suas mazelas. Porém não sei se suportará minha conversinha mole de hoje.

Na realidade, escrevo para diminuir minha carência, para desabafar. Não tendo terapeuta, uso e abuso de sua boa vontade. Não me abandone, por favor. Não agora. Pode ser que daqui a pouco minha dor se mostre apenas uma indisposição, algo passageiro. Se for, pronto, oras, você terá me ouvido, e tudo terá passado. Uma boa ação sua. De meu lado, ao falar, vou me curando, é assim que funciona a coisa desde sempre, como bem sacou o velho e bom Freud.

Estou meio sem jeito. Para falar a verdade, sou caladão; não falo, tartamudeio. Já que você foi alçado ao posto de terapeuta ou confessor, uma de suas obrigações é ser paciente, embora seja eu o paciente. Esta frase, mesmo não sendo boa, me remete a Campos de Carvalho. Posso fazer uma digressão?

Sujeitinho competente o Campos de Carvalho. Quem o conhece não se surpreende com a afirmação. Quem não, não perca tempo com cronistas menores, vá a uma livraria (há tantas e boas na cidade) e adquira o livro com todos os seus romances que saiu pela José Olympio, ou compre-os um a um, pois a mesma editora os está lançando separadamente agora. Voltando à digressão, esse autor mistura de tal jeito os estados de loucura e de lucidez — qual a diferença entre um e outro mesmo? —, criando personagens que transitam entre esses mundos paralelos, que eu diria, sem medo nenhum: Campos de Carvalho descobriu não a origem da vida, mas, sim, o sentido dela. E a julgar por ele, a vida é realmente sem sentido nenhum, o que, aliás, aumenta nosso compromisso com ela, fazendo-nos aceitar seus caprichos.

Digressão? Estou fugindo. Vamos ao ponto. Leitor, o fato é que nunca fui bom de bola. Já me ocorreu de, num teste no infantil do Esportivo, jogando de ponta direita, driblar o lateral, entrar na diagonal, driblar o beque e, cara a cara com o goleiro, chutar para fora. Uma decepção. Para a torcida e para mim. Quando nos decepcionamos conosco mesmo o nome é frustração.

Segue daí... O quê? Como assim, acabou?

Tempo lógico? Era o que faltava. Você não é o Lacan, nem meu analista você é, oras!

Pena, logo agora que encontrei o elo perdido de tantas dores.

4 comentários:

People MR disse...

Pôxa, Lacan, como assim? Acabou o tempo? Logo agora que eu estava me divertindo com a frustração do outro!

beth brandao disse...

Pois é, Xandão, pra que pagar terapeuta se a gente tem amigos? amigos é para estas coisas,não? e vc ainda tem vantagem por seus leitores serem fieis e ávidos por novas crônicas, como essa, que se deu para diminuir sua carência muito mais ainda deu para descontrair qualquer espírito que estivesse carrancudo. E repito o que vc disse:"O quê? Como assim, acabou? Tempo lógico? Era o que faltava... " Quero mais uma dose dessa! Beijinhos, Beth

No Osso disse...

Tia Beth e Paçoca... adorei os comentários inventivos das duas. Quando a gente tá na vagabundagem (nem que seja no meio de um dia de muito trabalho), ficamos criativos que dói.
Obrigado.

Maisa Cassimiro disse...

Alexandre, só hoje tive o ENORME privilégio de ler " No Jardim Botânico". Deixei um comentário "lá". Beijos.