27.5.10

Grito

Sou coisa mansa
Vale sem água protegido por montanhas
Me faço ouvir pela mímica do sapato
Enquanto fujo
Pela mímica das minhas dores
Enquanto roo as unhas e o silêncio

Eu roo o silêncio
Na quebrada invariante da tarde
Quando o horizonte de tão próximo não se deixa ver

Adiante há um eco
Mesmo que eu gire o corpo e volte-me para o outro lado
Lá está ele, silencioso e abraçado à nuvem de algum passo estrangeiro
É um pássaro visível
É um pássaro na fronteira do arco-íris
É um eco de pássaro

Eu coo o café da noite
Para cair nos braços da escuridão chegada a tangos
E dançar feito nave neve nuvem – feito pó

Pó manso
Imensa brisa calada
Depositário de um grito cheio de graça com os terremotos.

2 comentários:

Jogelci do Carmo disse...

Deixei-me levar pelo "Grito".
Muito bom.

Abs

No Osso disse...

Jogelci, que bom que você gostou, pois eu gosto deste meu grito. Ele não é muito agudo, né?
Volte sempre por estas bandas ósseas. A casa está sempre aberta.