30.5.12

FLIPassos: o presente pelos 154 anos de Passos


Há muito tempo não passava tantos dias em Passos, certamente desde a morte de minha mãe, em 2007. O motivo que me levou à cidade desta vez era nobre: a I FLIPassos (Feira Literária de Passos), evento que fez parte das comemorações do aniversário do município.
Eu e outros tantos escritores, passenses e de diversos cantos de Minas, tivemos uma agenda cheia. Visitamos escolas, fizemos leituras em praça pública e lançamos livros. Participamos de reuniões de escritores e batemos papo com os leitores. Nada diferente das feiras literárias. Porém havia um diferencial que atingiu com certeza a mim e aos demais conterrâneos: a feira foi em nossa cidade.
Assim, os relatos que ouvíamos, seja nas reuniões formais, com a presença da secretária de Educação, Cultura, Esporte e Lazer ou da diretora de Cultura, seja nas informais, tanto nos emocionavam como nos deixavam ainda mais certos da importância de um evento como esse para uma cidade. Ao participar de encontros em escolas, nos damos conta, por um lado, de como é importante para o estudante-leitor ver o escritor, conversar com ele. Talvez essa seja uma das maneiras mais atrativas de estimular a leitura, afinal de contas o escritor é uma pessoa que sabe fazer a ponte entre sua literatura e a atualidade, esta uma vivência comum a todos. Essa ponte, creio, é um facilitador, além de estímulo. Por outro lado, ao participar desses encontros com as escolas, há um caminho inverso, qual seja: os escritores descobrem como sua obra alcança o leitor, enfim, que leitura ela ganha. Essa via de mão dupla enriquece escritores e leitores.
Não posso deixar de mencionar o relato emocionado de Nelson Cruz, Neusa Sorrenti, Cristina Agostinho e Maurílio Andréas G. Silveira ao voltarem de visitas que fizeram às escolas, em particular às escolas rurais. Nelson Cruz, por exemplo, nos disse que, numa escola rural, encontrou, numa modesta biblioteca, três de seus livros. Uma vitória pessoal, mas também uma certeza de que a política de compras do governo está bem direcionada. Nelson não só chamou a atenção para esse deleite pessoal, como também registrou a qualidade do trabalho das crianças, feito com desenvoltura e criatividade. Disso tiramos uma conclusão óbvia: há professores dedicados em Passos, e eles estão fazendo um excelente trabalho. Aliás, sabemos, o ensino é sacerdócio. Coisas assim nos dão esperança de que a educação esteja sendo levada a sério.
Por tudo isso, a FLIPassos deverá ser um evento perene, incluído no calendário da cidade, independentemente de quem a esteja administrando. Isso não é fácil, pois a política gosta do personalismo. Cabe então a nós, que não somos políticos, reivindicar que esse evento — e outros de igual dimensão, ligados ao teatro, à música, ao cinema etc. — seja do povo e para o povo. E, mais do que isso, cabe a nós tentar atrair nossos agricultores, pecuaristas, donos de fábricas e comerciantes a participar da feira. Participar com grana, claro, mas também de outra forma, por exemplo, divulgando e abrindo a porta de seus estabelecimentos para eventos.
Desfile pelo dia da cidade. As escolas homenagearam os escritores da FLIPassos. Desfilei com o meu colégio, o Polivalente (fui da primeira turma, em 1972).
Para terminar, agradeço a todos que me prestigiaram. Em particular, agradeço ao pessoal do Polivalente, a escola em que estudei e que me homenageou no desfile do dia da cidade. De todas as emoções que tive nessa passagem em Passos, as mais fortes estiveram ligadas à escola. O encontro com os alunos para bate-papo. O desfile em si. Além disso, o encontro com Cecília Barros, a vovó-diretora de meu tempo, e com alguns colegas contemporâneos (Nilo, Auro e Teresinha) me deixou... me deixou... me deixou sem palavras.
Ah, no fim do evento, outro assassinato em Passos. A literatura não salva nada, mas, onde se lê mais, a vida é vista em sua real importância.

15.5.12

Notícias apressadas - No Osso: Crônicas Selecionadas

Meu novo livro, No Osso: Crônicas Selecionadas (Cais Pharoux), já está em circulação. O primeiro lançamento ocorreu em Passos, durante a I FLIPassos (I Feira Literária de Passos), evento sobre o qual falarei em breve.
Por enquanto, gostaria de deixar a reprodução de matéria saída no Estado de Minas (11/05) e o link do programa de rádio, Universo Literário, na Rádio da UFMG. O link é este.

Como está difícil ler a reprodução em anexo, o texto segue abaixo em sua íntegra.


Força do cotidiano
Eduardo Tristão Girão (Estado de Minas, 11/05/2012 – Caderno de Cultura, pg. 4)

Alexandre Brandão “produz e convive com números”, como ele mesmo diz. Mineiro de Passos radicado no Rio de Janeiro, o economista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística também sabe lidar com as palavras, como atesta No Osso (Cais Pharoux), livro de crônicas que lança hoje na 1ª Flipassos, Feira Literária de Passos, que é realizada na cidade do Sul do estado até segunda-feira. No dia 24, ele participará da Bienal do Livro de Minas, em Belo Horizonte, como escritor independente.
São quase 50 crônicas escritas de 2000 para cá e publicadas na Gazeta de Passos, Folha Carioca e CNP Notícias. “Efetivamente, criei um critério. A linha geral dele era alternar justamente o poético e o rigoroso. De certa forma, o livro tem esse equilíbrio, mas, ao selecionar crônicas, penso que é preciso escolher aquelas que, mesmo baseadas em fatos da atualidade, possam sobreviver a eles. Isso me remeteu ao espaço da memória, talvez a peça-chave de minhas crônicas”, explica o autor.
Alexandre usou frequentemente o cotidiano como inspiração para seus escritos. Para evitar a completa banalidade ao optar por esse caminho, explica ele, alguns cuidados precisam ser tomados: “Mesmo sendo objetivo e muito claro no que se vai dizer ao leitor, também é preciso dizer a ele com um pouco de beleza, com ironia ou graça, se possível. Além disso, tento fazer dos fatos do cotidiano algo que será perene”. O mineiro também é autor de Contos de homem (Aldebarã, 1995), Estão todos aqui (Bom texto, 2005) e A câmera e a pena (Cais Pharoux, 2009).

Modulações As vivências em Passos, Rio de Janeiro e nas outras duas cidades onde morou — Belo Horizonte e São Paulo — também ajudam o escritor a criar suas crônicas. “Como a memória dita o livro, o menino que fui em Passos vocifera por quase todo ele. Ao lado do menino, o homem que sou hoje, do jeito que posso ser hoje, esse morador carioca, modula o menino e olha para o mundo que vai correndo aos nossos olhos, mundo danado de confuso, cruel, mas também belo”, conclui.